O dólar no patamar de 4 reais não aterroriza somente os planos de quem tem viagem
marcada para o exterior. A disparada deve impactar o bolso do brasileiro. Preços de
massas, pães, produtos de higiene pessoal e limpeza serão reajustados para compensar
essa elevação. A explicação está no fato desses produtos usarem muitos insumos
importados e por isso ficarem sujeitos ao sobe e desce da moeda americana.
“A indústria já começa a repassar o aumento dos custos ao varejo, que deve transferir parte
desse aumento ao consumidor”, disse o economista da Associação Paulista de
Supermercados (Apas) Thiago Berka.
Um exemplo é o preço do pacote do papel higiênico branco com quatro unidades. Com o
aumento da tonelada da celulose, que é um dos insumos do produto e tem seu preço em
dólar, as notas dos fabricante para os supermercados já mostram uma elevação de até 20%.
“O aumento para o consumidor, no entanto, foi de 7%, isso na primeira semana de agosto,
quando o dólar estava a 3,70 reais. Agora, a mais de 4 reais, vai ser difícil segurar esse
repasse”. Em agosto, a moeda americana se valorizou 8,60%. No ano, a disparada supera
23%.
O brasileiro também deve sentir o aumento no preço do pão francês no final deste mês. Um
dos principais insumos do pãozinho é a farinha de trigo – o país importa 50% do que
consome desse item. “Esse é um produto em que o repasse acontece mais rapidamente.
Até julho, o pãozinho ficou 3% mais caro nos supermercados. Em agosto, já observamos
uma apreciação também”, conta o economista.
Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo
(FecomercioSP), caso persista a tendência de alta da moeda americana, além do pão e
gasolina, cujos reajustes consideram a cotação do petróleo no mercado internacional, outros
itens devem ter aumento de preços e pesar no bolso do consumidor. É o caso do azeite,
vinhos e peixes, como o bacalhau e salmão, eletroeletrônicos e as viagens internacionais
também serão afetados.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias,
Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), Cláudio Zanão, culpa o dólar pelo aumento de
custo dos fabricantes do setor. “Na produção de biscoitos, o trigo representa 30% dos
insumos e na fabricação de pães industrializados e massas, de 60% a 70%. Com o dólar a
esse preço, acredito que os repasses ao varejo acontecerão até setembro. Vai depender do
nível de estoque de trigo de cada empresa e de quanto ela está disposta a ver suas vendas
caírem”, disse Zanão.
Segundo ele, as vendas de biscoitos, macarrão e pães industrializados caíram 3% no
primeiro semestre na comparação com igual período de 2017 – tendência que ele diz
acreditar que permaneça até o final do ano. “Quem pode suportar o aumento dos custos vai
segurar os preços para não perder participação de mercado. Mas essa não é a realidade da
maioria das empresas do setor que, além de serem pequenas ou médias, são regionais”,
ressaltou.
O consumidor deve se preparar para esses aumentos de preços por um bom tempo,
segundo João Luiz Mascolo, professor de economia do Insper. “O dólar a 4 reais vai
permanecer por uns dois meses, e as empresas vão acabar repassando a elevação de
custos para os preços, principalmente aquelas que não têm políticas de proteção cambial,
os hedges
. Elas ficam contanto com a sorte”, alertou o professor.
Fonte: Veja